terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Exposição de fotos mostra semelhanças entre São Paulo e Buenos Aires
Horacio Coppola
À esq., esquina da av. Roque Sáenz Peña com rua Suipacha, em Buenos Aires; à dir., rua 15 de Novembro
Exposição de fotos mostra semelhanças entre São Paulo e Buenos Aires
SYLVIA COLOMBO
Folha on line editora da Ilustrada
Uma tem o trânsito caótico, poucas áreas verdes, edifícios de imenso mau gosto arquitetônico e bares e restaurantes voltados para o interior, sem diálogo com o espaço público.
A outra tem um ar europeu que seduz os turistas. É cheia de parques, vias arborizadas e cafés que interagem com a rua.
Se hoje é difícil ver semelhanças entre São Paulo e Buenos Aires, houve um tempo em que ambas não pareciam tão diferentes assim. É isso que tenta mostrar a exposição "Profissão Fotógrafo", que reúne 45 fotografias no museu Lasar Segall a partir do próximo sábado. As imagens foram feitas nos anos 1930 e 1940 pelo argentino Horacio Coppola e pela suíça Hildegard Rosenthal.
Horacio Coppola
Influenciados pelo modernismo e formados na tradição da Bauhaus [escola alemã de design, artes plásticas e arquitetura que funcionou entre 1919 e 1933], ambos realizaram trabalhos que convergem em diversos aspectos.
"Os dois exploraram as cidades a partir de um mesmo olhar, há neles uma preocupação com o geométrico, uma paixão pela forma, pela funcionalidade e pelo fragmento, o diálogo entre sombra e luz, entre outras coisas", explica o diretor do museu e um dos curadores da mostra, Jorge Schwartz.
Horacio Coppola tem hoje 103 anos e vive em Buenos Aires. Antes de ir para a Alemanha, já havia incorporado o modernismo em seu trabalho. No começo dos anos 30, foi estudar fotografia na Bauhaus, até que a escola foi fechada pelo governo nazista, em 1933.
Já Hildegard Rosenthal (1913-1990) nasceu na Suíça, morou alguns anos em Paris e também estudou fotografia na Alemanha, com Paul Wolff, um especialista nas câmeras Leica.
Assim como Coppola, Rosenthal fugiu do nazismo e veio se estabelecer na América Latina. Enquanto ele voltou para Buenos Aires, onde frequentou o grupo de Victoria Ocampo e da revista "Sur", ela veio para São Paulo e passou a trabalhar com fotojornalismo.
Com a exposição, será lançado "Metrópole", livro com cem fotografias de Rosenthal, pelo Instituto Moreira Salles.
São Paulo e Buenos Aires
As fotos de "Profissão Fotógrafo" registram instantâneos de um momento histórico de profundas transformações em São Paulo e em Buenos Aires. Ambas cresciam, acompanhando o processo de industrialização dos dois países. As ruas estão cheias de gente andando ou conversando nas esquinas. As cenas noturnas são iluminadas por letreiros de neon. Os cartazes de comércio chamam a atenção, enquanto bondes e automóveis vão tomando espaços.
É comum ver veículos e pessoas ao mesmo tempo nas vias. Ainda não havia uma separação clara sobre quem deveria transitar pela calçada e quem pelo asfalto. A obsessão por retratar avenidas está nos dois. "Há uma espécie de vertigem. As pessoas estavam surpresas com esse rápido processo de alargamento das cidades", diz Schwartz.
Outro aspecto comum às duas paisagens é a elegância dos transeuntes. Para Schwartz, isso deve-se ao fato de haver então uma definição mais evidente sobre o que era público e privado. "Havia uma roupa para sair à rua, outra para ficar em casa. Não era como hoje, em que se usam havaianas nos dois casos", conclui.
Também impressionava o surgimento da multidão. Uma festa cívica no Obelisco de Buenos Aires e o registro da solenidade de inauguração do Pacaembu evidenciam isso. De modo geral, Coppola e Rosenthal realizaram trabalhos distintos ao longo da carreira. Também Buenos Aires e São Paulo são efetivamente bastante diferentes --embora fossem menos naquela época.
O que o recorte de "Profissão Fotógrafo" permite concluir é que um artista e sua formação podem sugerir analogias impensadas, apontar, unificar ou mesmo criar ilusões a partir de determinadas realidades.
PROFISSÃO FOTÓGRAFO
Onde: museu Lasar Segall (r. Berta, 111, Vila Mariana, São Paulo, tel. 0/xx/ 11/5574-7322)Quando: a partir de sábado, 20 de fevereiro, até 4 de abril; de terça a sábado, das 14h às 19h; domingos e feriados, das 14h às 18h
Quanto: grátis
Parque da Mônica, sucesso dos anos 90, encerra atividades
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Endereço: av. Rebouças, 3.970, Pinheiros, região oeste, São Paulo, SP. Classificação etária: livre
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As informações estão atualizadas até a data acima. Sugerimos contatar o local para confirmar as informações
MILENA EMILIÃO
do Guia da Folha
Divulgação
Mônica anima o Carnaval no parque, em SP, que fecha nesta terça-feira
Após 17 anos no shopping Eldorado (região oeste da cidade de São Paulo), o Parque da Mônica recebe as crianças pela última vez nesta terça-feira (16). Não há ainda definição sobre o futuro do parque, nem sobre o espaço de 9.000 m2 do shopping.
A assessoria do desenhista Mauricio de Sousa afirma que há negociações para reabri-lo, em breve, em novo local.
Como última lembrança, há matinês de Carnaval até terça.
Folha On Line de 16 de fevereiro de 2910
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Osvaldinho da Cuíca: São Paulo esqueceu de seus maiores centenários
Osvaldinho da Cuíca gosta de ser chamado de sambista. Embora seja um exímio instrumentista e compositor, além de pesquisador, ele quer ser lembrado como homem do samba. “É o que eu soube fazer a vida inteira”, disse o artista paulistano, que a exemplo de Martinho da Vila vai estar comemorando aniversário dia 12, sexta-feira de carnaval.
Quando o país já estiver no clima de sua festa mais popular, Osvaldinho vai estar completando sete décadas de vida. O ex-integrante do histórico conjunto musical Demônios da Garoa, no entanto, diz estar chateado com as escolas de samba de São Paulo, que esqueceram de homenagear grandes artistas nos últimos anos.
“Infelizmente, muitas delas são manipuladas. Esqueceram de festejar o centenário de grandes nomes do carnaval e samba de São Paulo, como por exemplo, Adoniran Barbosa, Madrinha Eunice, Vadico e Henricão”, lamentou o sambista.
Por telefone, Osvaldinho da Cuíca conversou com o Samba de Primeira e relembrou de algumas passagens históricas de sua vida artística.
Osvaldinho da Cuíca ganhou cinco sambas-enredos pela Vai-Vai – Foto: Arquivo/AE
ESCOLA DE SAMBA
Hoje, as escolas de samba são manipuladas. São Paulo esqueceu de seus maiores centenários. No ano passado, a Lavapés deixou de festejar os 100 anos de sua fundadora, a Madrinha Eunice. A minha Vai-Vai deixou de falar, em 2008, dos 100 anos de nascimento de um de seus fundadores, o Henricão. E, neste ano, esqueceram do Adoniran Barbosa e também do Vadico, maior parceiro musical de Noel Rosa. Sem o Vadico, paulistano do Brás, tenho dúvidas se a obra do Noel seria a mesma. Uma pena. Perderam uma grande oportunidade.
VAI-VAI
Cheguei na escola em 1972, junto com o mestre de bateria Tadeu. Neste período, a escola era predominante de negros. Entraram uns 100 brancos na agremiação, entre eles, eu. Ajudei a transformar o Vai-Vai de cordão para escola*. Tinha um prestígio grande na época porque era integrante do Demônios da Garoa. Não saia da televisão e do rádio. Como tocava em uma casa do Bexiga, me chamaram para entrar na agremiação. Levei instrumentos de corda para bateria. Sou o fundador e primeiro presidente da ala de compositores da escola. Ganhei cinco sambas-enredos e fomos campeões de três. O Vai-Vai é uma comunidade, que se tornou uma religião. Hoje, sou turista lá. Não sou atuante como gostaria.
*Em 1972, o Cordão Vai-Vai, se transforma em Escola de Samba Vai-Vai. Alguns se referem à escola até hoje como Cordão Vai-Vai, por isso o artigo masculino
DEMÔNIOS DA GAROA
Tive três passagens pelo conjunto: 68 a 70, 80 a 83 e 93 a 99.O Demônios foi durante muitos anos o maior conjunto musical do Brasil. É um dos maiores representantes da cultura paulistana. Faz parte de nossa tradição, já que surgiu a partir da década de 40. Tenho muito orgulho de ter participado do conjunto em diversas fases. Tenho saudades, principalmente da primeira. Era um grupo muito criativo. Éramos imbatíveis.
ADONIRAM BARBOSA
Convivi muito com ele. Trabalhamos juntos na TV Record. Quem criou o Adoniran foi o maior cronista de todos os tempos de São Paulo, Osvaldo Molle. O Adoniran era uma pessoa muito engraçada e pacífica. Nunca vi falar mal de ninguém. Era um grande boêmio, gostava de uma bebidinha e era mulherengo. Um genial compositor.
NOEL ROSA
Representa a inovação do samba. Ele foi responsável da transição do maxixe para o samba. Ele e o Ismael Silva (sambista e fundador da Deixa Falar, hoje Estácio de Sá, no Rio de Janeiro), sedimentam o samba. Esse samba carioca que se tornou universal. Antes era o maxixe, um samba baiano. São dois gênios. Do violão dos dois surgiu um ritmo musical que ganhou o mundo. Precisa falar mais alguma coisa?
CARNAVAL DE SÃO PAULO
Evoluiu muito na parte empresarial, na parte de espetáculo e também da criatividade. Porém, algumas escolas tradicionais, por não terem uma direção forte, não se modernizaram. Uma pena ver Nenê da Vila Matilde, Unidos do Peruche e Camisa Verde e Branco na situação onde elas se encontram (as três vão disputar o Grupo de Acesso).
Jornal O Estado de S. Paulo de 4 de fevereiro de 2010
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Enchete de 1957 em São Paulo
Foto (reprodução) de enchente de 1957 em SP
Por Pablo Pereira
Sempre que se toca no problema das enxurradas na cidade de São Paulo, ainda mais graves quando se tornam assassinas, há diversos comentaristas que se manifestam (com a licença do mestre João Ubaldo, que gosta da palavra) espinafrando a Situação de agora, que, por sua vez, quando era Oposição, espinafrava a Situação de antes. E por aí vai.Mas, notem, o drama não é novo e o que se pretende aqui nesse Blog é olhar o problema na perspectiva da história. A cidade já teve administradores de diversas cores políticas e ideológicas. Já experimentou. Para não compararmos bichos diferentes, fiquemos somente com o período mais recente, com prefeitos escolhidos por voto. De Jânio (1986) para cá, passaram Luiza Erundina, Paulo Maluf, Celso Pita, Marta Suplicy, José Serra e, agora, Gilberto Kassab. Mas o problema das chuvas permanece — e mudando a vida de muita gente para pior.
Jornal O Estado de S. Paulo de 2 de fevereiro de 2010