Vista aérea de Interlagos na década de 1970 em foto de reprodução do livro 'Autódromo de Interlagos – 1940 a 1980', de Paulo Scali (Foto: Reprodução)
Foto de largada de uma corrida em Interlagos, em imagem cedida pelo ex-piloto Bird Clemente (Foto: Arquivo pessoal)
Suíça, francês e britânico fizeram Interlagos nascer em São Paulo
Bairro na Zona Sul de São Paulo cresceu após criação do autódromo. Interlagos seria uma espécie de resort de luxo dos paulistanos.
Dani Blaschkauer Do G1, em São Paulo
Bairro na Zona Sul de São Paulo cresceu após criação do autódromo. Interlagos seria uma espécie de resort de luxo dos paulistanos.
Dani Blaschkauer Do G1, em São Paulo
“Se você não conhece Interlagos, você não conhece a Suíça”, escreveu, no século XIX, o compositor alemão Felix Mendelssohn. Suíça? Não seria o Brasil?Mas foi de lá, do país europeu, que Interlagos, bairro da Zona Sul de São Paulo que abriga o autódromo José Carlos Pace, ganhou o nome. Em meados da década de 1920, o engenheiro britânico Louis Romero Sanson, dono da empresa de construção Auto-Estradas, visto como um futurista, planejou a construção de um resort entre as represas de Guarapiranga e Billings. Juntamente com ele entrou na empreitada o urbanista francês Alfred Agache, que acabara de trabalhar no Plano para Remodelação, Expansão e Embelezamento do Rio. E foi justamente Agache quem viu uma semelhança da região sul de São Paulo com Interlaken, na Suíça.
Foto: Arte: G1
Mapa localiza Interlagos na cidade de São Paulo e Interlaken, na Suíça (Arte: G1)
Começaria a nascer, então, o projeto do bairro Balneário Satélite da Capital, ponto que seria criado justamente visando as classes mais ricas da sociedade. Até mesmo uma praia, com areia vinda de Santos, foi criada junto à represa construída menos de 30 anos antes pela Light. “Louis Romero Sanson comprou o terreno onde fez o aeroporto de Congonhas e também passou a lotear os terrenos em Interlagos”, conta o historiador Paulo Scali, autor do livro “Autódromo de Interlagos – 1940 a 1980”. A urbanista e arquiteta Eveline Vieira, que ajudou na elaboração do livro do marido, conta mais. “Foi ele quem fez o aeroporto e também Interlagos. E foi dele a criação da (avenida) Washinton Luís. Ele fez acordo com os donos das granjas que existiam na região e abriu a estrada”, conta ela. “Queriam abrir o acesso a Interlagos para fazer de Interlagos um bairro satélite. Teria um hotel maravilhoso, praia artificial na represa e também teria o autódromo e ainda uma série de outras coisas para as pessoas morarem em Interlagos. Naquela época as pessoas gostavam de morar muito no centro”, completa.
Foto: Arquivo pessoal
Foto de largada de uma corrida em Interlagos, em imagem cedida pelo ex-piloto Bird Clemente (Foto: Arquivo pessoal)
Além de casas, o local também teria centros de lazer e um ginásio esportivo. O plano ia bem até estourar a crise de 1929, nos Estados Unidos, e a revolução de 1932 em São Paulo. Sem dinheiro, o projeto esfriou e só passou a ganhar força no meio da década seguinte. E isto graças ao sucesso que as corridas de automóveis passou a obter no país (principalmente no Rio e em São Paulo). Em 1936, São Paulo recebia a sua primeira prova internacional, mas o circuito foi as próprias ruas da capital. E após a (má) repercussão do acidente da piloto francesa Hellé-Nice, que perdeu o controle de seu Alfa Romeo e atropelou e matou cinco pessoas e feriu mais de 30, Interlagos voltou a ganhar a atenção. O trágico acidente e ainda a paixão pelo automobilismo não deixaram morrer a necessidade de a cidade ter um autódromo. Tendo o Automóvel Clube do Brasil como co-responsável na elaboração do projeto, Sanson priorizou a criação e construção do circuito de Interlagos, em um traçado que fez inspirado nas pistas de Indianápolis, nos Estados Unidos, Brooklands, na Inglaterra, e Monthony, na França.Em 12 de maio de 1940, era inaugurado, não 100% completo, o autódromo com 7.960 metros de extensão. O circuito fechado da cidade, rodeado por mata e sem banheiro, recebia sua primeira prova. De 1972, ano em que aconteceu a primeira prova de F-1 no país, até 2008, Interlagos só não recebeu uma prova da modalidade em dez oportunidades, anos em que o campeonato foi realizado em Jacarepaguá, no Rio. Em 1990, o circuito foi reduzido a 4.309 metros por exigências da Federação Internacional de Automobilismo.
Foto: Dani Blaschkauer/G1
O ex-piloto Bird Clemente (Foto: Dani Blaschkauer/G1)
“O autódromo fez o bairro crescer. Virou um atrativo imobiliário para a região. O bairro ficou famoso por conta do autódromo”, diz o ex-piloto Bird Clemente, de 70 anos. “Sou o cara que mais correu lá (em Interlagos)”, completa ele, que conta que, para chegar em Interlagos 40 anos atrpas, era necessário dar uma volta por São Paulo. “A gente cortava pelo Morumbi e pegava a então estrada velha de Santo Amaro. Mas se hoje São Paulo tem mais vias de acesso, por outro lado tem muito mais trânsito. Eu acho que o tempo para se chegar do Pacaembu, onde eu morava, até Interlagos é o mesmo”, concluiu o ex-piloto. Pelo jeito, parafraseando o compositor alemão, quando foi criado, se você conhecia Interlagos, você conhecia também boa parte de São Paulo. Já hoje, o que você conhece mesmo é o congestionado trânsito da maior cidade do país.
Foto: Arte: G1
Mapa localiza Interlagos na cidade de São Paulo e Interlaken, na Suíça (Arte: G1)
Começaria a nascer, então, o projeto do bairro Balneário Satélite da Capital, ponto que seria criado justamente visando as classes mais ricas da sociedade. Até mesmo uma praia, com areia vinda de Santos, foi criada junto à represa construída menos de 30 anos antes pela Light. “Louis Romero Sanson comprou o terreno onde fez o aeroporto de Congonhas e também passou a lotear os terrenos em Interlagos”, conta o historiador Paulo Scali, autor do livro “Autódromo de Interlagos – 1940 a 1980”. A urbanista e arquiteta Eveline Vieira, que ajudou na elaboração do livro do marido, conta mais. “Foi ele quem fez o aeroporto e também Interlagos. E foi dele a criação da (avenida) Washinton Luís. Ele fez acordo com os donos das granjas que existiam na região e abriu a estrada”, conta ela. “Queriam abrir o acesso a Interlagos para fazer de Interlagos um bairro satélite. Teria um hotel maravilhoso, praia artificial na represa e também teria o autódromo e ainda uma série de outras coisas para as pessoas morarem em Interlagos. Naquela época as pessoas gostavam de morar muito no centro”, completa.
Foto: Arquivo pessoal
Foto de largada de uma corrida em Interlagos, em imagem cedida pelo ex-piloto Bird Clemente (Foto: Arquivo pessoal)
Além de casas, o local também teria centros de lazer e um ginásio esportivo. O plano ia bem até estourar a crise de 1929, nos Estados Unidos, e a revolução de 1932 em São Paulo. Sem dinheiro, o projeto esfriou e só passou a ganhar força no meio da década seguinte. E isto graças ao sucesso que as corridas de automóveis passou a obter no país (principalmente no Rio e em São Paulo). Em 1936, São Paulo recebia a sua primeira prova internacional, mas o circuito foi as próprias ruas da capital. E após a (má) repercussão do acidente da piloto francesa Hellé-Nice, que perdeu o controle de seu Alfa Romeo e atropelou e matou cinco pessoas e feriu mais de 30, Interlagos voltou a ganhar a atenção. O trágico acidente e ainda a paixão pelo automobilismo não deixaram morrer a necessidade de a cidade ter um autódromo. Tendo o Automóvel Clube do Brasil como co-responsável na elaboração do projeto, Sanson priorizou a criação e construção do circuito de Interlagos, em um traçado que fez inspirado nas pistas de Indianápolis, nos Estados Unidos, Brooklands, na Inglaterra, e Monthony, na França.Em 12 de maio de 1940, era inaugurado, não 100% completo, o autódromo com 7.960 metros de extensão. O circuito fechado da cidade, rodeado por mata e sem banheiro, recebia sua primeira prova. De 1972, ano em que aconteceu a primeira prova de F-1 no país, até 2008, Interlagos só não recebeu uma prova da modalidade em dez oportunidades, anos em que o campeonato foi realizado em Jacarepaguá, no Rio. Em 1990, o circuito foi reduzido a 4.309 metros por exigências da Federação Internacional de Automobilismo.
Foto: Dani Blaschkauer/G1
O ex-piloto Bird Clemente (Foto: Dani Blaschkauer/G1)
“O autódromo fez o bairro crescer. Virou um atrativo imobiliário para a região. O bairro ficou famoso por conta do autódromo”, diz o ex-piloto Bird Clemente, de 70 anos. “Sou o cara que mais correu lá (em Interlagos)”, completa ele, que conta que, para chegar em Interlagos 40 anos atrpas, era necessário dar uma volta por São Paulo. “A gente cortava pelo Morumbi e pegava a então estrada velha de Santo Amaro. Mas se hoje São Paulo tem mais vias de acesso, por outro lado tem muito mais trânsito. Eu acho que o tempo para se chegar do Pacaembu, onde eu morava, até Interlagos é o mesmo”, concluiu o ex-piloto. Pelo jeito, parafraseando o compositor alemão, quando foi criado, se você conhecia Interlagos, você conhecia também boa parte de São Paulo. Já hoje, o que você conhece mesmo é o congestionado trânsito da maior cidade do país.
Globo.com
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