sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Os cardeais do samba



Por Leandro Calixto

Seu Nenê e Seu Carlão são remanescentes da primeira leva de grandes sambistas do Carnaval de São Paulo – Foto: Ernesto Rodrigues/AE


ano de 1968 é considerado um marco para Carnaval de São Paulo. Foi no final desta década, quando o Brasil vivia o auge da Ditadura Militar, que as Escolas de Samba de São Paulo começaram a ganhar um tratamento profissional.
Os desfiles, que até então eram realizados sem uma grande infra-estrutura, tiveram a Avenida São João como palco. Tanto o campeonato de Cordões como o das Escolas de Samba ganharam arquibancadas, regulamento e finalmente foram oficializados pela Prefeitura.
Seis sambistas são considerados os grandes responsáveis por essa transformação: Xangô da Vila Maria, Pé Rachado do Vai- Vai, Madrinha Eunice da Lavapés, Inocêncio Mulata da Camisa Verde e Branco , Nenê da Vila Matilde e Carlão do Peruche. Cansados de promover para os padrões da época grandes espetáculos, mas sem grandes receitas, os seis sambistas resolveram peitar o poder público. Só sossegaram quando finalmente conseguiram marcar uma audiência com o prefeito da época, o carioca Faria Lima.
Nascido em Vila Isabel, terra do poeta Noel Rosa, o político, que reza a lenda tinha samba na veia, teria ficado sensibilizado com a precária situação que eram realizados os desfiles e resolveu dar um empurrão e ajudar financeiramente o Carnaval de São Paulo.
Deste seleto grupo de bambas, chamados pela Imprensa da época como os Cardeais do Samba, apenas dois continuam vivos: Seu Nenê, de 88 anos, e Seu Carlão do Peruche, com 79.
Na tarde da última quarta-feira, na residência de Seu Nenê, em uma bucólica rua da zona leste, o Jornal da Tarde reuniu os dois sambistas para um bate-papo. O encontro, que será publicado no JT na edição deste sábado, dia 16, foi marcado por grande emoção. Os mestres admitiram sentir saudades dos tempos em que o Carnaval da cidade ainda era realizado de uma forma despretensiosa.
“Antigamente, as pessoas desfilavam para se divertir e acima de tudo defender a sua comunidade. Hoje não. O Carnaval se transformou num grande campeonato. Falta a irreverência de antigamente e o amor pelo pavilhão (bandeira) da escola”, definiu seu Carlão. Já seu Nenê, prefere esquecer que a agremiação que ajudou a fundar e que ainda carrega o seu nome vai disputar neste ano o Grupo de Acesso, a chamada Segunda Divisão do Carnaval de São Paulo. “Prefiro me lembrar das grandes conquistas. O golpe do ano passado foi muito duro e difícil de ser digerido. Mas vamos tentar subir novamente”, avisa.
O sábio seu Nenê tem razão. É hora de olhar para frente.
O samba só é samba por exisitir personagens imortais como ele e seu Carlão


Jornal O Estado de S. Paulo de 14 de janeiro de 2010 (Há 168 dias sob censura)

Nenhum comentário:

Postar um comentário