segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ermelino Matarazzo

Ermelino Matarazzo, um bairro operário com nome de empresário
O nome do bairro é uma homenagem ao neto do Conde Francisco Matarazzo. Mais de 18% da população local vive em favelas.
Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo. Ali vivem 200 mil habitantes, 18,45% deles em favelas; o rendimento médio dos chefes de família é de R$ 815,91, bem abaixo da média da Capital, de R$ 1.325. Esta região distante do centro e carente já atraiu, quem diria, milhares de paulistanos e imigrantes em busca de emprego.
A primeira corrida rumo ao leste ocorreu a partir do ano de 1941, quando foi inaugurada uma fábrica das Indústrias Matarazzo, a Celosul. “Era a única produtora de papel celofane da América do Sul”, lembra o aposentado Marino Bacaicoa, 78 anos, 28 deles trabalhando na fábrica. Marino deixou a Penha e se transferiu para Ermelino, onde existiam apenas algumas chácaras e um punhado de casas construídas para os funcionários da Celosul. Nada de luz elétrica, asfalto, comércio. A fábrica atraiu ainda imigrantes italianos, alemães e ingleses.
A luz elétrica só chegou em 51, e inicialmente na fábrica e nas residências de seus funcionários. A luz beneficiou também a Císper, empresa carioca fabricante de vidros que se estabeleceu no bairro em 47. Como a região não oferecia infra-estrutura suficiente a família Matarazzo se encarregou de construir a primeira escola, um cinema e um mercado. Os funcionários contavam com os serviços do hospital construído pelo grupo na avenida Paulista. O nome do bairro é uma homenagem ao neto do Conde Francisco Matarazzo, que foi um dos diretores do grupo e, segundo Marino, jogou no time de futebol da Celosul.
No início da década de 70 a Celosul viveu seu ápice para entrar em decadência alguns anos depois, com a crise no grupo Matarazzo. Apesar disso a região voltou a atrair paulistanos de outros bairros uma vez que foi nesta época que Ermelino foi separado de São Miguel e ganhou administração própria. Hoje a Celosul se mantém ativa, mas sob o comando de uma cooperativa. A Císper também resiste nas mãos de outros proprietários.
Revitalização de áreas de lazer
Naqueles tempos, como hoje, as opções de lazer em Ermelino eram escassas. A fonte do Jardim Belém foi o ponto de encontro favorito dos casais de namorados, e os homens se distraíam com os jogos de futebol. A fonte não existe mais e a Subprefeitura vem se esforçando para entregar áreas de lazer à comunidade. Quinze praças revitalizadas serão entregues até o final deste ano e duas pistas de skate, uma reformada e outra nova. Todos os projetos são definidos em conjunto pela administração local e pela comunidade que, afinal, é a maior interessada.
A Subprefeitura tem negociado ainda com comerciantes e empresários para que participem do programa da Prefeitura de adoção de áreas públicas, responsabilizando-se pela manutenção de praças e canteiros. “Temos pelo menos 20 interessados”, comemora o subprefeito, que espera assinar os contratos ainda em dezembro. O projeto de revitalização, batizado de “Colorindo as Praças”, prevê o plantio de flores nestes espaços, geralmente tomados pelo verde. São 95 praças nos bairros de Ermelino e Ponte Rasa.
Outra promessa para a região é o parque Dom Paulo Evaristo Arns, na avenida Abel Tavares, com uma área aproximada de 5 mil metros quadrados. Ali está localizada a casa sede da Chácara Matarazzo, residência de veraneio da família construída em 1941. A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente está estudando um projeto de reforma para a casa e para o terreno vizinho, hoje utilizado por ONGs. Há duas possibilidades: passar o parque, decretado no final do ano passado, para o comando da Subprefeitura, ou anexar a área localizada atrás do terreno (de 8 mil metros quadrados) para ampliar o parque e fazer então um projeto para ele.
O Casarão dos Matarazzo
O casarão é a única construção histórica sobrevivente em Ermelino. Além dele havia a Casa da Moenda do Sítio Piraquara, que teria sido erguida pelos índios guaianases no século XVI. Nos anos 70 restavam partes das paredes de taipa e uma janela, que não resistiram ao abandono. Alguns historiadores acreditam que o sítio seria até mais antigo que a Capela de São Miguel do Ururaí, esta ainda preservada no bairro vizinho.
A casa do Sítio Mirim é um pouco mais recente, do século XVII ou início do século XVIII, de acordo com os cálculos de historiadores. Também construída em taipa de pilão, a casa estava localizada próxima ao rio Tietê e à estrada de ferro da Central do Brasil.
A estação foi inaugurada em 1924 e a linha passava por Itaim Paulista, São Miguel e chegava a Calmon Viana. Os trilhos são atualmente utilizados pela CPTM, mas os trens não dão conta da enorme demanda nos horários de pico. Some-se a isso as linhas de ônibus, que partem somente de bairros vizinhos, e transporte passa a ser uma das maiores reclamações dos moradores de Ermelino. “Os ônibus já chegam aqui lotados”, diz Marino Bacaicoa.
Na lista de reivindicações também está a canalização de córregos, com o objetivo de minimizar os riscos de enchentes. Além dos dois córregos do jardim Keralux existem outros 16 na região. Antes de anunciar novas obras a Subprefeitura vai estudar as condições dos rios localizados na região central, que podem estar recebendo um volume de água incompatível com a profundidade da calha. Uma das idéias é fazer córregos paralelos fechados.
Mais urgentes são as áreas de risco nas encostas – duas são consideradas de alto risco e em uma delas o trabalho já está 50% feito. Mais de 100 munícipes vivem na encosta ameaçada, e não foi preciso removê-los do local.
Festa popular
Os moradores de Ermelino se orgulham de organizar a maior festa popular do Dia do Trabalho, atrás somente das comemorações da Força Sindical e CGT, com a diferença de que não são sorteados prêmios, grandes imãs de público. A comemoração dura três dias e reúne 50 mil pessoas em cada um deles.
Nadando contra a corrente, a comunidade tenta manter o mesmo perfil da primeira festa, realizada em 1959. O palco foi a avenida Miguel Rachid, por onde desfilaram a banda de Ermelino, carros alegóricos, bicicletas e escolares. No final do dia, gincanas e uma corrida. A festa é hoje realizada em mais de um palco e as principais atrações são os shows com artistas populares e o concurso de miss.

Boas surpresas no parque do Tietê e na USP Leste
Apesar as poucas áreas de lazer de Ermelino Matarazzo, os dois espaços são motivos de orgulho dos moradores do bairro. O Parque chega a receber quase 400 mil visitantes por mês.
Ermelino tem poucas opções de lazer, mas ao menos uma delas é motivo de orgulho para seus habitantes: o Centro de Lazer Engenheiro Goulart, parte do Parque Ecológico do Tietê, que tem sua área compartilhada pelos municípios de São Paulo e Guarulhos. No total são 14 milhões de metros quadrados, divididos em lagos, áreas verdes e quadras poliesportivas, piscinas, além de viveiro de mudas, orquidário, museu e o Centro de Recuperação de Animais Silvestres. O número de visitantes chega a 40 mil por mês.
O centro de recuperação é um dos únicos da região metropolitana de São Paulo. Para lá são levados animais silvestres apreendidos pela polícia ambiental ou encontrados nas ruas pela população, além daqueles que vivem soltos nas matas do parque. O número de animais varia de acordo com as apreensões – podem chegar a 50 em um mês e 400 em outro.
Ali estão aves, algumas ameaçadas de extinção, como o azulão, e também macacos, capivaras, quatis, gaviões. Até um mico-leão-dourado já caiu nas mãos da equipe. Os animais são quase sempre vítimas de maus-tratos nas mãos dos criminosos – às vezes inconsciente por falta de informação sobre os cuidados necessários com aquela espécie de animal. “Um pássaro é mais fácil de cuidar que um primata”, diz o biólogo Gabriel de Mendonça Cardoso.
A maioria das aves chega com as asas machucadas por linhas de pipa. Após o tratamento veterinário os animais passam por uma fase de readaptação e são enviados a viveiros ou criadouros cadastrados pelo Ibama em todo o País.
O centro, no entanto, não é aberto ao público, por se tratar de uma espécie de hospital veterinário. A população tem a chance de ver animais silvestres percorrendo as trilhas na mata, na companhia de um guia. Os menos adeptos ao turismo ecológico podem preferir uma visita ao Museu do Tietê, um espaço dedicado a contar a historia do rio que foi indispensável para o desenvolvimento de São Paulo. “A cidade cresceu graças ao Tietê”, diz o monitor Astor Leonel.
Em imagens antigas e objetos o museu relembra desde os primórdios da relação entre paulistas e o rio que corta o Estado: a época das monções, expedições exploratórias e comerciais realizadas até o final do século XIX; passa pelo início da urbanização, quando o Tietê sediava competições de regatas e travessias a nado, e chega aos dias atuais, que dispensam apresentações. O museu tenta conscientizar seus visitantes – em sua maioria estudantes – para a importância de se preservar nossas reservas de água doce.
A educação também promete ajudar a mudar a cara de Ermelino: no início de 2005 o bairro ganhou o campus da USP Leste, próximo ao Parque Ecológico do Tietê. Criada justamente para atender às necessidades da região leste da cidade, que abriga cerca de 4 milhões de pessoas, a universidade ofereceu neste primeiro ano 1.020 vagas em dez cursos de graduação nas áreas de artes, ciências e humanas, entre eles Sistemas de Informação, Gestão de Políticas Públicas, Marketing e Gerontologia. Neste mês a USP inaugura três novos blocos: o Módulo Didático Inicial, o Módulo Didático Principal e o Módulo da Biblioteca, que somam 27.758 metros quadrados de área construída e abrigarão salas de aula, de informática e laboratórios.
A chegada da universidade é comemorada pela Subprefeitura. Com ela vêm empreendimentos comerciais e de infra-estrutura. A população do Jardim Keralux, um dos mais carentes de Ermelino e vizinho da USP Leste, já está se beneficiando do cursinho comunitário organizado por professores e estudantes. “A universidade traz um benefício enorme”, diz o Subprefeito. As duas principais vias do bairro – Bispo Martins e Arlindo Bétio – acabam de ser asfaltadas. Um dos principais córregos do bairro, o Mongaguá, está sendo canalizado e o próximo da lista deverá ser o Ponte Rasa. E a comunidade ainda vai ganhar uma Emei (Escola Municipal de Ensino Infantil) e uma creche.

Celosul: a origem fabril de Ermelino Matarazzo
Com a Celosul, inaugurada em 1941, as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo passaram a se dedicar, também,a produção de papel celofane.
As Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM) formavam, entre os anos de 1920 e 1930, um poderoso complexo industrial. As várias fábricas foram abertas aos poucos, com base na lógica de desdobrar atividades dos setores em funcionamento, suprir as necessidades de embalagem de produtos e aproveitar racionalmente os rejeitos industriais.
Em meados dos anos 20, as IRFM adquiriram jazidas de argila num subúrbio paulistano, que recebeu o nome de Ermelino Matarazzo, em homenagem ao terceiro filho do Conde Francisco Matarazzo, falecido em 1920.
Um dos desafios das IRFM era a produção de papel celofane, feito a partir da viscose. Quando as empresas conseguiram produzir celulose e ácido sulfúrico, insumos básicos para a produção da viscose, contrataram técnicos franceses para desenvolverem as máquinas e orientarem a implantação da nova indústria, chamada Celosul, inaugurada em 1941 em Ermelino Matarazzo.
Para garantir o funcionamento da Celosul, então distante do perímetro urbano, a empresa passou a ofertar serviços como restaurante, hotel para os empregados da administração, vilas residenciais para os operários, postos de abastecimento, grupo escolar e cinema.
O núcleo industrial impulsionou o crescimento do bairro e se tornou referência na região. Reafirmando sua importância para a memória do bairro e da cidade, o conjunto de residências operárias remanescentes da implantação original da Celosul foi indicado pela população como ZEPEC (Zona Especial de Preservação Cultural) no Plano Regional Estratégico das Subprefeituras em 2004.
Fonte: Departamento do Patrimônio Histórico

2 comentários:

  1. Olá, eu sou o Fábio.
    Gostaria de saber a localidade do conjunto residencial operário remanescente da Colosul. Tenho uma enorme curiosidade a esse respeito...
    Se puderem me informar, eu agradeço.
    Fábio Dantas

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  2. Olá, eu sou a Bruna.
    Gostaria de saber a fundo a história da Fabrica Cisper e seus beneficius para o bairro..
    Se puderem me ajudar, eu agradeço.
    Bruna Gusmatti Greco

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