segunda-feira, 1 de junho de 2009

Itaim Paulista


O lento crescimento e as grandes histórias do Itaim Paulista
Conheça mais sobre a região que já foi reduto de olarias na cidade. Cortada por seis córregos, teve suas águas mais limpas em outros tempos. Mesmo assim, os moradores declaram seu amor pela região, com histórias e boas lembranças.
Imagine uma região cortada por seis córregos que correm no sentido norte-sul para desaguar no rio Tietê. Imaginou? Então, assim é a região do Itaim Paulista, zona Leste. Os córregos Itaquera-Itaqueruna, Água Vermelha, Lajeado, Itaim, Tijuco Preto e Três Pontes já foram opções de lazer e fonte de renda para os moradores da região.
Hoje, muito poluídos, animam apenas as lembranças dos moradores mais antigos. “Eu e meu irmão nadávamos nos lagos formados por um dos córregos”, conta Domingos Rodrigues, 43 anos. Também era muito comum no bairro a presença de olarias. A produção de tijolos, favorecida pelo solo irrigado, já foi muito intensa e lucrativa nos anos 30 e 40.
No início do século passado, o trabalho das olarias multiplicou-se muito devido ao crescimento da cidade, que consumia cada vez mais materiais de construção, como os pedregulhos e a areia, que eram extraídos do rio Tietê.
A Chácara das Flores ainda guarda as reminiscências desse tempo: são quatro hectares de terra que abrigam uma das mais antigas olarias do Itaim. Com mais de 70 anos, a antiga olaria, embora já não fabrique tijolos e telhas, continua atraindo a atenção de muitos visitantes. Além disso, a Chácara, hoje um parque, abriga uma das únicas áreas verdes do bairro. “O que sobrou de Mata Atlântica do Itaim está aqui”, avalia a administradora do parque, Nathalia Portero da Silva. Motivo, segundo ela, que leva ao parque mais de mil e quinhentos moradores do Itaim à Chácara das Flores nos fins de semana.
O engenheiro Domingos Rodrigues relembra com visível saudade o Itaim Paulista de seus tempos de infância no Itaim, onde a família se fixou ainda na primeira metade do século passado. Primeiro foi o pai, português pobre e sem recursos que veio tentar a vida por aqui, depois o avô mudou-se para o bairro. Isso foi há mais de 80 anos e desde então quatro gerações acompanham as mudanças na região. Depois dos portugueses vieram os italianos, os japoneses e os húngaros. Mais tarde juntaram-se a eles os migrantes nordestinos, hoje maioria no Itaim. “Pegávamos peixes nos córregos”, recorda Domingos, com evidente nostalgia.
Crescimento lento
Uma realidade distante também para o visitante que conhece o bairro hoje em dia: as áreas em torno dos córregos foram todas invadidas por moradias irregulares. Os conglomerados de casas humildes que se formaram às margens dos afluentes do Tietê são imensos. Com o processo de ocupação desordenada, restou pouca coisa da época em que a região do Itaim, cujo significado é “pedra pequena”, era conhecida apenas por Embiasigua, uma região que tardou a se desenvolver.
Seus pioneiros atribuíam suas dificuldades de crescimento ao fato do Itaim ficar entre grandes vilas como São Miguel e Lajeado – nos primeiros séculos de colonização, o Itaim Paulista era um misto de chácaras, fazendas e sítios, desestimulados pela falta de infraestrutura e sufocado pelo progresso dos vizinhos, o Itaim só começou a receber seus primeiros moradores no final do século 18.
O crescimento ocorreu no século 19 com a chegada da ferrovia – Estrada do Norte, antiga Central do Brasil. A partir de então, a principio muito lentamente, as casas foram surgindo ao longo das margens dos trilhos. Mas foi só a partir de 1957, quando se instalou a paróquia de João Batista do Itaim que o bairro passou a viver seu maior ciclo de desenvolvimento. Junto com o crescimento veio a emancipação política. Foi em 1980 que o Itaim Paulista, que até então fazia parte de São Miguel Paulista, foi elevado à condição de distrito autônomo. A Subprefeitura faz divisa ao norte e ao oeste com a Subprefeitura de São Miguel Paulista e ao sul com o município de Ferraz de Vasconcelos.
Atualmente a região, administrada pela Subprefeitura do Itaim Paulista, ainda sofre com infra-estrutura e urbanização precárias, tem 375.111 habitantes (SEMPLA) distribuídos em 2.170 hectares (cerca de 12km2) e é formada pelos distritos de Itaim Paulista e Vila Curuçá.
Artéria principal
Um detalhe chama a atenção no bairro. Todo o desenvolvimento ocorreu ao longo da principal avenida do Itaim Paulista, a Marechal Tito. Quanto mais afastado da avenida, maior a pobreza. Segundo os moradores, tudo de mais importante e significativo para a região está nas imediações desta grande avenida que, até por isso, está sempre congestionada.
Não é de hoje que a avenida é a principal artéria da região. A Marechal Tito é a antiga Estrada Velha que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro. Por isso, foi natural que as lojas, os bancos, toda a infraestrutura comercial e de serviços se instalasse na avenida. Inclusive o único prédio de quatro andares do bairro está na Marechal. “Até para ir ao supermercado temos que ir até à avenida”, diz Domingos, que faz parte da terceira geração de portugueses que se mudou para o Itaim.
Arte, Lazer e Sobrevivência
A arte está presente nas diferentes manifestações humanas, com a intenção de estimular os sentidos e transmitir emoções e idéias. Cada obra de arte é uma forma de interpretação da vida e para criá-la o artista precisa de inspiração e talento.
No Itaim Paulista a inspiração vem da realidade periférica e o movimento que mais se destaca é a música em seus variados estilos com representantes cantores, compositores, instrumentistas e arranjadores.
A expressividade dos gestos e dos movimentos através do teatro e da dança e outra manifestação artística e cultural com bastante destaque na região, neste mesmo caminho também está a capoeira um movimento de vanguarda que vem sendo difundido a mais de um século e que vem desde a época do Itaim das Senzalas. Ela perdeu espaço durante a ditadura militar mais, ao fim da censura ela se fortaleceu voltando com grande valor estético e cultural para o país.
O Hip Hop que agrega os Rappers, os Djs , os B.Boys, os Skatistas, os grafiteiros e a literatura de periferia, no Itaim Paulista tem um significativo representante, Alessandro Buzo que já publicou quatro livros e tem mais dois prontos para serem lançados, o escritor já foi premiado com o Hutúz 2007, prêmio que destaca o melhor do Hip Hop na América Latina.
Nos pontos de lazer a freqüência de público é constante, principalmente nos finais de semana quando a população lota os três parques de áreas verdes (Parque Chácara das Flores, Parque Santa Amélia, Parque Chico Mendes), o Clube da Vila Curuçá, os dois CEUs (Centro de Educação Unificado), os CDCs - Centros Desportivos Comunitários e nas várias praças distribuídas pelo distrito, em breve mais dois parques lineares (um nas margens do córrego Itaim e outro nas margens do córrego Água Vermelha, ambos em construção) irão trazer mais opção de lazer para o bairro. Piscinas, quadras poliesportivas, campos de futebol, espaços para caminhadas, play graunds, dois teatros, ambos com tela de projeção para filmes e várias ruas de lazer fazem a atração no bairro.
Para sobreviver a maioria da população, faz como na física, "tira leite de pedra". Numa população em que 15% dos responsáveis pelos domicílios não têm renda nenhuma e outros 45% têm renda inferior a três salários mínimos. Não é difícil entender que a grande saída para o desenvolvimento econômico da localidade está em trilhar caminhos que levem a população à geração de trabalho e renda.
Com a ajuda dos agentes comunitários de saúde foi realizado um diagnóstico das potencialidades de trabalho desta população, os setores que mais se destacaram foram os de alimentação, da confecção, reciclagem, cultura e tecnologia e pequenos negócios e prestadores de serviços.
Todos os empreendedores latentes e emergentes destes segmentos de produção e serviços estão hoje organizados em cinco câmaras temáticas todas elas organizadas na perspectiva da promoção dos arranjos produtivos locais.
Com base nos dados coletados em 2005, foi criada a Câmara de Animação Econômica com objetivo de facilitar, através do método dos seis Cs, ou seja, Caça Talentos, Cooperação, Conscientização, Capacitação, Crédito e Comercialização a busca da articulação sistêmica todas as ações que possam promover o empreendedorismo local. Em três anos de trabalho várias cooperativas foram organizadas, muitos empreendedores individuais e familiares surgiram prospectando sua produção e serviços gerando trabalho e aurefindo renda.
Caminhos diferentes podem levar a humanidade para a saída da extrema pobreza e recuperar nos homens a dignidade que foi excluída, quando a esperança de encontrar um emprego desapereceu, pequenas luzes surgem pelo caminho e "tirar leite de pedra" já não parece tão impossível para a população do Itaim Paulista.

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