segunda-feira, 1 de junho de 2009

Jabaquara

Construção mais antiga da região, o Sítio da Ressaca data do século XVII
A denominação Jabaquara vem do tupi-guarani YAB-A-QUAR-A, que significa rocha e buraco e também Mata dos Negros Fujões. Nos tempos da escravidão era uma mata deserta que servia de abrigo aos escravos fugidos e que pertencia a uma das inúmeras sesmarias do Padre José de Anchieta, da Companhia de Jesus.
A construção do Sítio da Ressaca data do século XVII. O local foi tombado em 1972. A restauração da construção foi feita em 1978 e retomada em 1986, após um incêndio.
No mesmo local está o Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro, que reúne objetos referentes à presença dos negros em São Paulo.
A região era dos viajantes que se dirigiam a Santo Amaro e a Borda do Campo, até o ínicio do século XVII. Nessa época começou a ser procurado por fazendeiros e sitiantes que ali abriram estabelecimentos agrícolas e comerciais. Somente no fim do século XIX a região se popularizou, depois que a prefeitura resolveu instalar um lougradouro público, o Parque do Jabaquara, para passeios e piqueniques.
Entre 1886 e 1913 circularam os trens a vapor de uma pequena ferrovia que ligava Vila Mariana a Santo Amaro, e cujos trilhos foram implantados sobre uma via do antigo Caminho do Carro.
A linha de bondes implantada pela LIGHT And POWER Co. em 1906 passava ao largo da região, pois seguia mais a oeste, num trajeto em linha reta que ia desde a rua Tutóia, na Vila Mariana, até o centro de Santo Amaro. A posterior linha Jabaquara, que na época de sua inauguração avançava além dos limites da zona urbanizada, apenas tangenciava o perímetro atual da Subprefeitura.
O primeiro loteamento aconteceu na Vila Santa Catarina por volta de 1920/1921.
Até o final da década de 1920 toda a área hoje correspondente`a Subprefeitura do Jabaquara (AR-JA) era escassamente povoada e apresentava características marcadamente rurais. Apenas chácaras esparsas se destacavam em meio a extensas superfícies não ocupadas. O "Caminho do Carro", antiga via de ligação entre São paulo e Santo Amaro após atravessar os atuais campo Belo e Brooklin.
Podem ser considerados como marco inicial, do processo de ocupação urbana na região a abertura, em 1928, da auto-estrada Washington Luiz, ligando Vila Mariana aos loteamentos suburbanos localizadosàs margens da represas, bem como a instalação do aeroporto de Congonhas em 1936.
A construção da Paróquia São Judas Tadeu, aconteceu em 1940, a pedido dosubprefeituracebispo metropolitano Dom José Gaspar Afonso e Silva. Atualmente, a Paróquia de São judas conta com duas igrejas. A valorização do preço da terra propiciada poe estes melhoramentos incentivou a abertura de loteamentos (Jardim Aeroporto, Vila Mascote, Vila Santa Catarina, Vila Parque Jabaquara), que permaneceram, no entanto, praticamente desocupados ou apenas formando núcleos isolados até a década de 1950.

Jabaquara, onde os caminhos de ricos e pobres da cidade se encontram
A região concentra 98 favelas e áreas nobilíssimas, como a Vila Mascote, em que um apartamento pode custar um milhão de dólares. É um microcosmo dos contrastes brasileiros delimitado em 14 quilômetros quadrados de subprefeitura, uma das menores de São Paulo.
Sobre a cabeça os aviões, sob os pés os trilhos da primeira estação de metrô construída no município, e contornando o bairro, vias expressas como a Washington Luís, Bandeirantes, Água Espraiada e Cupecê. Um distrito com facilidades de acesso como o Jabaquara fatalmente atrai muitos moradores.
Como resultado, a região concentra hoje 98 favelas e áreas nobilíssimas, como a Vila Mascote, em que um apartamento pode custar um milhão de dólares. É um microcosmo dos contrastes brasileiros delimitado em 14 quilômetros quadrados de subprefeitura, uma das menores de São Paulo. “É um miolo com acesso muito rápido para qualquer lugar. Quem está próximo a alguma dessas avenidas consegue ir com mais facilidade ao trabalho, pois o trânsito é bem melhor. E a pessoas que moram em favelas não querem sair daqui, porque conseguem se locomover bem”, analisa o diretor-superintendente da Associação Comercial do bairro, Fernando Calderón Alemany, 59 anos.
Calderón é um simpático espanhol, da fala fácil, representante de um dos grupos pioneiros no bairro. Até a década de 1940, o Jabaquara era basicamente composto por sítios e chácaras, muitos deles tendo espanhóis como proprietários. A urbanização ocorreu na década de 50, a partir da construção do Aeroporto de Congonhas, em volta do qual cresceu a região. A economia do bairro foi movida, no primeiro momento, pelo comércio e por fábricas, que até hoje produzem semimanufaturados para grandes empresas, como lonas de barcos, peças para carro, confecções e perfis de alumínio.
O comércio, situado em avenidas como a Santa Catarina e nas proximidades do metrô Conceição, perdeu força nos últimos anos, segundo Calderón por causa da disseminação dos shoppings centers em bairros próximos, como o Morumbi, Ibirapuera e Interlagos. Em compensação, ganharam força os grandes colégios, que atendem os moradores mais ricos. Os gastos da população mais abastada no bairro, entretanto, se resume a imóveis e aos colégios.
“O empresário daqui não é como o da zona leste, que investe e prestigia o bairro. Temos de tudo aqui, mas precisamos trazer o povo para o comercio do bairro”, avalia Calderón. E não só ele. Tanto assim que a representação regional da Associação Comercial procura costurar parcerias com as empresas instaladas na região para estimular a compra no comércio local, oferecendo descontos aos clientes.
Também nos idos de 40, Jabaquara ganhou um bairro de classe média que teve como ilustre inaugurador o então presidente Getúlio Vargas. Getúlio entregou aos moradores a primeira chave das 1000 casas construídas com financiamento do governo federal, como resultado da mobilização do Sindicato dos Jornalistas em parceria com a sociedade dos funcionários do comércio local. O bairro, Cidade Vargas, transformou-se, assim, numa das poucas homenagens ao ditador em São Paulo, cidade que se levantou em armas contra seu governo em 1932.
“É um dos poucos lugares de São Paulo que homenageia Getúlio por causa da Revolução Constitucionalista de 32. Os paulistas não gostam muito dele”, ressalta a presidente da Associação de Amigos da Cidade Vargas, Miriam Eboli Bock.
As moradias e ruas agradáveis, bem arborizadas e com pouco movimento de Cidade Vargas, preservam as características do seu início e traduzem a qualidade de vida obtida por seus 5 mil moradores. “À custa de muita reivindicação”, lembra Miriam. Cidade Vargas possui quatro escolas, posto de saúde, infra-estrutura completa, área de lazer e manutenção. A própria sede da associação funciona num clube onde sopra uma brisa vinda do Parque do Estado, situado defronte ao centro. Reivindicar, aliás, é uma palavra chave para Miriam, que acumula a função de presidente do Conseg (Conselho de Segurança) do Jabaquara. Nervo exposto hoje no Brasil, os índices de violência registraram, no distrito, 71 homicídios ao longo de 2003, segundo dados do PRO-AIM/Secretaria Municipal de Saúde. Na semana que passou, um universitário foi morto a sangue frio por assaltantes que roubavam seu carro.
“A Polícia nos diz que os índices de violência caíram. Mas a sensação de insegurança cresceu”, relativiza a presidente do Conselho.
Na luta pela redução da criminalidade, associada à busca por melhores condições de vida aos moradores, os membros do Conseg deram início também ao movimento pela continuidade da Avenida Água Espraiada, atual Avenida Jornalista Roberto Marinho, que fará a ligação entre a Marginal Pinheiros e a Rodovia dos Imigrantes.
As obras da Água Espraiada estacionaram em uma das entradas do bairro. Para o projeto ter continuidade, as obras precisarão colocar abaixo um posto de gasolina e parte das 98 favelas que ocupam a Jabaquara, onde residem mais de 24 mil moradores, em um contraste típico do bairro. Se na Vila Mascote e no Santa Catarina existem apartamentos milionários, nas favelas ao lado estão encravados cativeiros para onde seqüestradores levam suas vítimas abocanhadas em outros cantos da cidade. Não à toa, a polícia faz ronda 24 horas em vielas suspeitas.
Ilustração trágica disso se deu em 1998, no Parque do Estado, antiga Favela do Caixote, para onde o motoboy Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque, atraía suas vítimas. Pelo menos 10 mulheres foram assassinadas no parque, cuja área se expande por Jabaquara, Diadema e Ipiranga. Junte-se seqüestros ao tráfico de drogas e têm-se as principais fontes de violência no distrito.
Mas nas favelas moram principalmente trabalhadores, mulheres e crianças com suas demandas específicas. Na Vila Clara, a prefeitura está construindo uma UBS (Unidade Básica de Saúde) para atender os seus moradores que, hoje, para obterem serviços de saúde, precisam se dirigir a Americanópolis, bairro próximo. Cerca de 70% da obra já foram realizados.
No lazer, ocorre um interessante fenômeno no Clube Municipal Balneário Jalisco, situado na Vila Santa Catarina, onde freqüentadores abastados e carentes dividem o mesmo espaço. É bem verdade que essa divisão é relativa. Afinal, os de boa condição financeira fazem sua ginástica durante a semana, e os de menor renda enchem as piscinas aos sábados e domingos. O processo de aproximação tem sido gradual. “Antes era bem definido quem fazia aula e quem usava o clube nos fins de semana. Hoje a gente já mescla mais, aos poucos vamos aproximando as pessoas, mas ainda se observa o contraste”, comenta o coordenador de equipamentos, José Domingos da Silva, 47 anos.
Nesse lapso entre os que têm acesso às benesses da civilização moderna - saúde, educação, lazer, consumo - e os que vivem à margem, florescem as entidades sociais. No Jabaquara, essas associações têm um papel ativo no apoio aos mais necessitados. Pelo menos três delas acolhem quem precisa e realizam cursos de qualificação para dar condições de trabalho e renda às famílias. É o caso do Camp (Centro de Aprendizagem e Monitoramento Profissional), conduzido há 15 anos por membros do Rotary Jabaquara, que presta atendimento a 400 adolescentes de baixa renda, entre 16 e 18 anos, estudantes de ensino público.
As atividades do centro visam inserir esses jovens no mercado de trabalho, por meio de cursos direcionados, como técnicas administrativas e comerciais, telemarketing, informática focada em operações de escritório, ensinamentos sobre asseio e preservação dos espaços físicos, reforço de matemática e português. A direção do Camp também faz parcerias com empresas que desejem empregar jovens em postos como auxiliar de escritório.
“É bem legal. A gente aprende várias coisas para se preparar para o primeiro emprego”, resume o aluno Carlos Alexandre Alves dos Santos, 16 anos.
Outra entidade bastante atuante na região é a Abecal (Associação Beneficente Caminho da Luz), que em apenas três anos conseguiu eficiência em seus programas e o direito de sediar a única “Estação Digital” da cidade de São Paulo. A estação é um projeto do Banco do Brasil que destina computadores a uma entidade em cada cidade do Brasil. Na Abecal, foram 15 microcomputadores, cujo número pode ser ampliado para 50, assim que a associação encontrar espaço físico para sua expansão. Os investimentos alcançaram R$ 60 mil e 386 alunos são beneficiados.
Juntamente com a informática, a entidade ministra cursos de corte e costura, culinária, pintura em tecido e línguas. A Abecal administra ainda um albergue, que abriga 300 pessoas. O diretor presidente da entidade, Roberto Souza de Oliveira, 53 anos, utiliza a conhecida imagem sobre “dar o peixe ou ensinar a pescar” para explicar o papel da associação. “No albergue damos o peixe, e nos cursos ensinamos a pescar”, resume Oliveira, que é sobrinho de Hebert de Souza, o Betinho, que impulsionou a campanha contra a fome no país.
Já a AME, atuando há 31 anos no Jabaquara, administra uma creche para 123 crianças de 2 a 6 anos e ministra, num prédio anexo, aulas de reforço para 100 adolescentes de 6 a 13 anos. Também presta cursos para gestantes e culinária ao público feminino e ganhou o Prêmio Bem Eficiente 2005, concedido pela Kanitz e Associados. “O nosso carro chefe é a criança e o adolescente, mas também trabalhamos com a mulher adulta para ela melhorar a renda”, ressalta a presidente Arlete Lopes Meireles, 52 anos.

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