sábado, 13 de junho de 2009

Parelheiros

Parelheiros: uma cidade do interior dentro da metrópole
No extremo sul da capital, ficam os distritos que compõem a subprefeitura: uma área de 350 km², com nascentes de água que alimentam as represas Billings e Guarapiranga, responsáveis por 30% do abastecimento da região metropolitana.
São Paulo é, definitivamente, a terra dos contrastes. A mais cosmopolita de todas as cidades brasileiras tem, a 50 km dos vistosos edifícios inteligentes das avenidas que concentram as maiores fortunas do país, um pedaço de chão marcado pela ponta de orgulho de seus moradores quando indagam aos visitantes: “não parece uma cidade do interior?”, buscando enfatizar a simplicidade e singeleza do cotidiano da maior subprefeitura de São Paulo: Parelheiros.
Lá, no extremo sul da capital, ficam os distritos de Parelheiros e Marsilac, que compõem a subprefeitura de Parelheiros. Uma área de 350 km², cerca de 25% dos 1507 km² de São Paulo, com muitas nascentes de água, que fizeram brotar vários pesqueiros e que alimentam as represas Billings e Guarapiranga, responsáveis por 30% de todo abastecimento da região metropolitana.
Parelheiros experimentou uma exponencial taxa de crescimento demográfico: saltou de 61.586 habitantes (Censo 91) para 111.240 habitantes (Censo 2000), um aumento de 80% na sua população, que inviabiliza qualquer tipo de planejamento municipal. Hoje, a Fundação SEADE estima em 136 mil pessoas morando na região – mais 20 % que o Censo de 2000 – sendo 60% na zona rural.
As estradas sinuosas e estreitas são pontilhadas por sítios e fazendinhas que produzem lenha, hortaliças, flores e plantas ornamentais. Entre essas, os buxinhos, que se prestam para bonsai e topiaria, a arte de esculpir em árvores e as tuias – árvores de natal vendidas com raiz e símbolo da vida eterna para as 94 famílias de imigrantes alemães que chegaram à região em 1829.
Um desses descendentes é Marinho Reimberg, dono de uma loja de ferragens e materiais de construção em Colônia e referência obrigatória para assuntos germânicos da região. Marinho conta que esses primeiros imigrantes extraíam e forneciam madeira bruta para serrarias instaladas em Santo Amaro. Lá, essas toras eram transformadas em móveis e apetrechos para a construção civil.
Enquanto busca em cima da sua mesa recortes de jornais e fotos antigas sobre esse pedaço da história de São Paulo para ilustrar suas palavras, um quadro pendurado na parede chama a atenção: trata-se de uma planta de 1889, feita em tecido, de uma das glebas de doação para os primeiros imigrantes. Com sua autorização a equipe do DOC encaminhou para o Arquivo Municipal Histórico “Washington Luiz”, onde a restauradora Maria Isabel Garcia atestou: “é uma parte da história da cidade”. Marinho estuda sua doação para o Arquivo Municipal e afirmou: “lá ele vai estar mais bem cuidado e mais pessoas poderão vê-lo”.
Por volta de 1940, a região passou a receber também imigrantes japoneses que vieram para explorar a agricultura e também ajudaram no desenvolvimento da região. Hoje, a Igreja Messiânica, de origem nipônica, tem seu maior templo fora do Japão: o Solo Sagrado de Guarapiranga inaugurado em 1995.
Aldeias indígenas
Em Marsilac, a estação ferroviária Evangelista de Souza marcou a história do estado de São Paulo durante a expansão da Estrada de Ferro Sorocabana. Fazia parte do ramal Mayrink-Santos, projetado para escoar a produção cafeeira do interior ao porto de Santos – que funciona até hoje – e decisivo na quebra do monopólio da companhia concorrente, a Santos-Jundiaí, conhecida como a “Inglesa”. Em 1957, foi inaugurado o ramal Jurubatuba-Evangelista, desativado em 1991.
Igualmente peculiar é a existência de duas aldeias de etnia guarani dentro da APA, a Krukutu e a Tenondê Porã. Cada uma conta com uma escola específica para a educação infantil indígena, os CECIs – Centros de Educação e Cultura Indígena. Das 300 crianças guarani, 204 são da Tenondê Porã, que passam o dia na escola em contato direto com sua cultura sob a guarda de suas mães e de monitores guarani. A coordenadora desse CECI, Adriana Melo explica que a partir dos 7 anos, os meninos e meninas passam a freqüentar a EE Indígena Guarani Gwyrapepo.
Problemas também existem, é claro. Alguns, inimagináveis para quem está acostumado à vida cosmopolita da metrópole. Em Parelheiros, não há agência dos Correios. O único posto bancário fica na sede da subprefeitura. Há seis Unidades Básicas de Saúde, nenhuma delas no Marsilac, o distrito mais ao sul. E o pronto-socorro mais próximo, no Balneário São José, não tem capacidade para atender a todos os casos.
Os moradores reclamam da falta de pavimentação das vias, esquecendo-se de que, por se tratar de uma área de mananciais, o solo não pode ser impermeabilizado. Pela mesma razão, não se pode canalizar os córregos. A maior parte das casas – construídas em loteamentos irregulares – despeja seus esgotos diretamente nos córregos, vulneráveis também ao acúmulo de lixo. O que a subprefeitura pode fazer, e faz periodicamente, é a limpeza dos córregos.
A área é potencialmente rica em recursos naturais. Sem a possibilidade de desenvolver uma produção industrial ou o mercado imobiliário locais, comunidade e subprefeitura debatem possíveis alternativas para a geração de renda. Um dos principais objetivos estratégicos é o fomento ao ecoturismo.
Contato com a natureza
Atualmente, são poucas as empresas que exploram este nicho. São acampamentos, clubes e pesqueiros. Entre eles, o Pesqueiro Matsurama, com seus espécimes de pacu, matrinchã, pintado, cachara e dourado de até 7 kg. Alguns tambacus chegam a 22 kg.
Há pessoas que preferem um contato mais direto com a natureza, como o comerciante Sebastião Raimundo e vai aos rios Cipó e Embu-Guaçu há cerca de 3 anos. Antes disso, costumava praticar seu hobby na represa Billings, já no alto da serra. Ele diz que nota de vez em quando alguma poluição na água do Cipó, por conta do porto de areia existente em sua cabeceira. Outro problema é a falta de consciência ecológica dos próprios pescadores, tanto nos rios quanto na represa. “Boa parte do pessoal não tem o cuidado de recolher o lixo que deixa no local. Alguns ainda arrancam galhos e arvorezinhas do lugar, porque elas estão atrapalhando sua pescaria”, diz Sebastião.
Estão lá também o Clube de Campo do Palmeiras e o Guarapiranga Golf Clube – que, em 2000, recepcionou o Aberto de Golfe do Brasil, um dos mais importantes campeonatos da modalidade na América do Sul. O Golf Clube está em Parelheiros há 43 anos e possui hoje 360 associados, na sua maioria orientais que também levaram para a região o Solo Sagrado de Guarapiranga, da Igreja Messiânica, um importante marco religioso e turístico e que foi erguido na região pela sua rara beleza ambiental.
Outra possibilidade estudada para viabilizar uma economia sustentável local é a construção de condomínios de alto nível, como os que existem, por exemplo, na cidade de Ibiúna, para onde as classes economicamente mais favorecidas fogem nos finais de semana e feriados. Ainda assim, a organização por si só não resolve a questão central: Parelheiros ainda não está preparada para receber turistas.
Uma das medidas que criariam estruturas para isto é o estabelecimento de sete parques lineares dentro da APA. O projeto está previsto no Plano Diretor, e a subprefeitura incluiu investimentos em ecoturismo no orçamento de 2006. Entretanto, a dificuldade está na captação de recursos para que as melhorias saiam do papel.
As duas mais conhecidas empresas que fazem ecoturismo na região são a Águias da Serra e a Silcol Sítio, ambas na Estrada da Ponte Alta, que trabalham como acampamentos e pousadas. Ficam dentro da APA Capivari-Monos, o que lhes permite explorar suas vantagens. Funcionam o ano inteiro, abrindo seu espaço para acampamentos e “day-camps” para crianças e adolescentes. “Day camps” é a forma que os empresários preferem para dizer “dia no campo”.
Diversão no sítio
O forte do Águias da Serra é a área de recreação do sítio. Não há monitores para fazer trilhas, porém as crianças podem se divertir com os lagos, botes, caiaques, tirolesa, circuito de arvorismo, a “fazendinha”, campos de futebol, piscinas e brincadeiras coordenadas pela equipe do acampamento.
Com 250.000 m², tem capacidade para receber 150 crianças, que dormem em quartos equipados com beliches e banheiro privativo. Para os adultos, até 500 reunidos em eventos de empresas, é oferecida uma estrutura que inclui salões de festa, lagos para passeios de bote e pesca esportiva, piscinas etc.
O proprietário Miguel Naghirniac Neto, 48 anos, inaugurou o sítio há 9 anos, e explica que escolheu Parelheiros para sediar seu negócio porque “vimos potencialidade no local. É uma área que ainda vai ser desenvolvida, é muito rica para o turismo”.
O Silcol, que fica na mesma estrada, mas já no Marsilac, atende um público ainda maior, até porque funciona também como pousada. São escolas, públicas e privadas, interessadas em oferecer educação ambiental aos alunos durante os “day-camps” e acampamentos de férias para crianças e adolescentes, famílias, grupos de amigos, igrejas em retiro. Existe há 14 anos e recebe estudantes principalmente de escolas particulares. Entre suas principais atrações estão as visitas às cachoeiras e trilhas na área da APA. Uma delas, inclusive, leva o visitante a Itanhaém, descendo a serra.
Roberto Carlos da Silva, 42 anos, residente em Parelheiros há 30 e proprietário do sítio, conta que a crescente exposição na mídia tem rendido frutos. “A região é bastante procurada por causa da APA, as matérias que aparecem na imprensa têm atraído muitos turistas”, diz ele. O sítio, que tem capacidade para pernoite de até 120 pessoas e 400 em eventos, emprega 45 funcionários durante a temporada, cerca de 80% deles moradores da região. O restante vem de fora porque não existe na área pessoal qualificado em Turismo, Hotelaria ou Educação Física.
Roberto, que é geógrafo e pós-graduado em Ecoturismo pelo Senac, é presidente da Associação dos Empreendedores de Ecoturismo da APA Capivari-Monos (Aecotur) e ajudou a definir possíveis modelos de desenvolvimento para a região. Sua tese sobre as possibilidades de negócios turísticos na APA serviu de base para debater com a comunidade local a política da Aecotur.
APA Capivari-Monos
A APA (Área de Preservação Ambiental) Capivari-Monos é um dos poucos focos de Mata Atlântica ainda preservados no estado e abrange parte do Parque Estadual da Serra do Mar. Ela recebeu esse nome por abrigar as nascentes dos rios Capivari e Monos, que abastecem as represas artificiais Billings e Guarapiranga.
A fiscalização dessa área é feita pela Base Comunitária Capivari-Monos da Guarda Civil Metropolitana que tem dois postos na região: o de Barragem e o de Evangelista de Souza e um contingente de 32 policiais com habilitação diferenciada como paraquedismo e sobrevivência em selva.
A APA tem um Conselho Gestor formado por representantes da Prefeitura e da sociedade civil, entre eles os empresários Roberto Carlos da Silva, Miguel Naghirniac e o inspetor Bento da GCM, que mudou de Itaquaquecetuba para Parelheiros para ficar mais próximo da sua paixão: a APA.
Dentro do seu perímetro estão os bairros de Barragem, Cidade Nova América, Vargem Grande, Engenheiro Marsilac, Jardim dos Eucaliptos, Gramado, Ponte Seca, Ponte Alta, Embura do Alto e Evangelista de Souza.
A lei municipal 13.136/01 criou a APA Capivari-Monos para proteger a biodiversidade (recursos hídricos e remanescentes da Mata Atlântica), melhorar a qualidade de vida dos moradores, manter o caráter cultural da região, evitar a ocupação urbana nas suas áreas e o patrimônio arqueológico e cultural.
Essa última preocupação se deve a um marco geológico: a Cratera de Colônia, uma depressão de formato circular e 3,6 km de diâmetro, resultado da queda de um meteorito no local há cerca de 36 milhões de anos. A cratera foi povoada por um grande loteamento, o Condomínio Vargem Grande, onde cerca de 45 mil pessoas convivem com um CDP – Centro de Detenção Provisória – que até 2002 foi uma unidade da Febem.
Colônia preserva antigo cemitério em Parelheiros
Cemitério da colônia alemã, do início do século XIX, foi incluído pela população como Zona Especial de Preservação Cultural.
Por determinação do governo imperial, um grupo de 200 imigrantes chegou a São Paulo em 1827. Eram alemães, austríacos e suíços que vinham para o estabelecimento de uma colônia agrícola. Depois de um ano de estudos e discussões sobre o local onde deveria ser instalada a colônia, o governo provincial optou por uma área a cerca de 50 km da cidade, que ficou conhecida como Colônia Alemã.
Entre os imigrantes havia católicos e protestantes, o que gerou vários conflitos e a criação de um cemitério para os últimos. O cemitério integrava um pequeno núcleo formado por casas de taipa ou madeira e uma igreja de traços simples.
Sem o apoio do governo e enfrentando toda sorte de dificuldades, a colônia entrou em rápida decadência, levando muitos a deixarem a região. Mais de um século depois, durante a Segunda Guerra Mundial, a denominação Colônia Alemã foi substituída por Colônia Paulista, ou, simplesmente, Colônia.
Em 1966, a Prefeitura desativou o antigo cemitério, em virtude de seu estado de abandono. A medida, no entanto, desencadeou um movimento por parte da comunidade alemã de São Paulo, em prol da sua preservação e restauro. Ainda hoje, as campas conservam o padrão construtivo do século XIX, com lápides de mármore e cabeceiras altas. Recentemente, a parte mais elevada do cemitério passou a ser usada para novos sepultamentos.
Em meados dos anos 1970, um dos cemitérios mais antigos da cidade e marco da imigração alemã em São Paulo foi protegido por legislação de zoneamento. Em 2004, foi incluído pela população como ZEPEC (Zona Especial de Preservação Cultural) no Plano Regional Estratégico das Subprefeituras.

Fonte: Departamento do Patrimônio Histórico

Um comentário:

  1. Desenvolvimento com políticas ambientais sustentáveis não são coisas antagônicas. Qualquer pessoa com um mínimo de noções culturais sabe que investimentos em transporte, saneamento básico, urbanismo e infra-estrutura só trazem o progresso por onde passam. Os fatos refletem isto, o atual rodoanel sul não permite ligações periféricas secundárias em seu contorno, e que atravessa inúmeros mananciais, e o futuro norte estão levando em conta estas importantíssimas questões. Com todo respeito, acreditar que o único caminho viável é deixarmos do jeito que está, é no mínimo falta de informação.
    Dentre as obras do PAC-2, uma que deveria estar incluída e ser priorizada é ligação rodo ferroviária Parelheiros–Itanhaém/Peruibe, uma vez que o porto de Santos ultrapassou seu limite de saturação com filas de navios em de mais de 60 unidades, das quais podem ser avistados da Vila Caiçara em Praia Grande, além de que a Via Anchieta por ser a única via de descida permitida para ônibus e caminhões tem registrados congestionamentos e acidentes graves semanalmente, como este de hoje 22/02/2013 em que uma trompa d’agua na baixada paulista deixou o sistema Anchieta / Imigrantes em colapso, e o transito só foi restabelecido na madrugada do dia 24 seguinte, e em épocas de escoamento de safras também a Dom Domenico Rangoni (Piaçaguera–Guarujá) se torna congestionada diariamente, ao contrário da Manoel da Nóbrega, onde somente se fica com problemas em épocas pontuais na passagem de ano, ao porto de Santos, e os futuros portos de Itanhaém / Peruíbe.
    Acredito também, como munícipe, que a estrada mitigaria as condições de abandono que a cidade vive, com ruas sem pavimentação, buracos e mato para todo o lado. Uma ligação da cidade com a região sul da capital traria muitos benefícios, fornecendo mais opções, melhorar a qualidade de vida dos moradores da capital e baixada. Muitas pessoas voltariam a fixar na cidade, inclusive eu. A cidade poderia nos dar mais retorno frente aos impostos que pagamos. Investimentos em Parques Temáticos, Porto, Aeroporto, Ferrovia ligando com a existente, enfim muitos projetos que alavancariam a região como um todo, bem como o desenvolvimento global de toda a região.
    Enquanto outras cidades turísticas litorâneas avançam principalmente no norte fluminense, Itanhaem, Mongaguá e Peruíbe se voltam ás primitivas cidades sazonais caiçaras sem interesse em desenvolvimento e com metas e avanços financeiros presentes apenas nas mãos de alguns.
    Já passou á hora de ver nossa geração e de nossos filhos se enraizarem na região com bons empregos e educação ao invés de tentar uma melhor condição social em São Paulo, pois Santos também está saturada.

    Com relação Parelheiros, esta região rural situada ao sul do município de São Paulo, a região que possui uma carência de saneamento básico, ajudaria enormemente uma fiscalização e urbanização e preservação dos seus mananciais.

    Sinto que o potencial destas cidades não são aproveitados, com foco noutros que beneficiam uma minoria. Não vejo senão, o apoio irresponsável e egoísta aos interesses escusos.

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